segunda-feira, 15 de abril de 2024

MORRO DE AREIA


O ousado sem camisa, o olhar sedento que desviava fluidez em uma pseudotimidez

O curioso de essência e a incontrolável curiosidade de ter o outro, nicotina 

O boné verde, um talvez alargador preto, o sol que teimava em não me permitir ver

Ouvi tua voz ao longe, mas não conseguia te materializar enquanto já te sabia, previa 

Estalos da não despedida, o corte da história que denunciava a junção ilícita dos opostos 

Todavia você me encontrou, em minutos éramos fumaça rubra e libido em suspiros 

 

A pousada, a intrepidez do novo em apelo silencioso na primeira eviterna cama  

Teus olhos ciganos, como uma pintura perfeita, as mãos hábeis em seda

Meu corpo trêmulo, o sem fim, o reggae em um compasso olho no olho em chamas  

A pulsação, o desnudo e o desinibido, a permissividade dos corpos, água de chuveiro 

Então o cigarro que marcava teu rosto em uma neblina de mistério, leve fugacidade 

Entorpecente, latente também perene, já éramos a mais estranha realidade 

 

Beijos de cacau, água ardente em toques e risos involuntários, inconstâncias e paixão 

A que não buscamos, resistimos, desistimos; o sol já era cúmplice depoente 

Brisa na ilha, dois reis em trono de pedra e o som do mar quebrando em música 

A sensação adolescente de infinitude, o elo súbito, a certeza fortuita da insegurança 

Enquanto os dias sugeriam polvorosas experiências fugazes, fomos imensos dois

Imoderados fugitivos na noite em cercas, matos rasteiros, areia de praia conjugal 

 

Já não dominávamos as vontades do externo, nos instituímos imprescindíveis

Fomos distâncias de barco quando os pensamentos nos ligavam em sal

Tememos o fim, acidente no mar; cobiçava sua silhueta, o bálsamo narcótico hipnótico 

A lua desenhando sua luz no mar, o lençol azul, os nus sedentos namorando o céu 

A surpresa, os corpos e o visceral, o arrepio do pressentimento do indefinível 

Atônitos declaramos amor ao passo que amanhecia, o vértice suado da querença 

 

Enfim, a aflição chorosa estúpida do talvez, mas que já doía inerte viciante, fumo

O possível último sol, o farol sem luz, o caminho desespero perigoso da última vez 

A não saciedade lascívia, o aroma das bocas e a incapacidade de saber agir 

Os degraus que desejamos não findarem para evitar o fim, a saudade bronzeada 

Patéticos voluntários, choramos a dúvida em lentes descomedidas, explosão 

Em cheiro, saca tua câmera e eterniza a nossa lua no mar negro, um quadro demodê

 


sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

EM ALGUM LUGAR, DE ALGUMA FORMA




Dentre o ensurdecedor, teu movimento em câmera lenta, o abadá desapertado e ainda cheiroso
O ao redor em um silêncio vazio enquanto tudo parou, observei teu ritmo
A impermanência dos teus cabelos lisos e as mãos ao alto, você cantava
O balanço da boca larga até que em sorrisos, sozinho e somente
Hipnotizei o momento e cultuei, em segundos, teu olhar gigante, distante
Macunaíma, pleonasmo, nortista indígena retinto da noite, tanto e tanto

Alguns passos, já moldei tua cintura em meus braços, tua mão em meu rosto
Os lábios uniram-se em beijo sorriso interminável em afago
O branco incontável dos dentes brilhosos em festa, gargalhamos sem saber
Fomos a força do imprevisível em segundos estranhos ao medo, ficar
Uma piscadela e o olhar fugindo na multidão, o axé e a sem demora saudade
Procurei teus fios pretos, busquei o enlace perdido e tudo sumiu

O reencontro, o que era especulação encarnou em uma febre desnuda
Já não havia espaços e senti deitado tuas dunas, as curvas delgadas
A aglutinação de todos os olhos em arrepio de constatação, a seiva natural
A beleza cafuza, o ingênuo, vulnerável como uma dádiva dos sensíveis poucos
Logo, a fenda, o ato em abraço quase choroso, as cicatrizes
A inquietação e a associação em transe, as palavras que urgiam em sair

A despedida, a esquina como em maldade nos desuniu silenciosamente
Tentei fugir das lembranças, ainda verdes mas latentes, a esquecer
Então, a distância virtual real concebeu momentos para sentir
Crédulos, talvez, vivemos eternidades sem fim e fomos promessas madrugadas
Porém, a realidade violenta e dolorida nos desatou, te reencontrarei
Como te amei em algum lugar, de alguma forma, imenso

terça-feira, 3 de outubro de 2023

PUJANTE

Até mais além, as paredes construídas com o colorido do sopro de todos os anos 
Quando os dias ainda não forem suficientes para destruir os tapumes ainda de pé 
Uma vez que pelo alicerce de sustentação correm veias de sublimação do belo, ego 
Super, interino, espelho flutuante dos traquejos otimistas mais genuínos em sorrisos 
Cheiro de mar, do fumo alucinógeno de mãos para o alto, o clarão, a doce fumaça 
O hálito das melhores fragrâncias, o eterno novo em roda viva e, então, os beijos 
O ritmo, o nu tempestade permissivo em desenho de seda, os caminhos e as curvas 
Aquela permissividade que metamorfoseia todas as coisas desbotadas em novas cores 

Cada paleta, cada aquarela, em chapa quente na pele, os pés que não aparam o chão 
Livres, o pedestal do conhecimento de si pra o adverso do que não orna, não paramenta 
O tronco colosso que transfere as altas vibrações de explosões em chamas ao inconsciente 
E a fluidez dos abraços, o auge da nunca saciedade em movimentos involuntários, ereto 
Até que o que já é memória inesquecível põe o corpo em demência arbitrária, compassada 
Os toques todos, as danças das fendas, a umidade melindrosa carregada da mas calma calidez 
Diluindo o peso de todas as ruínas em um alívio dos ombros condescendentes, a nuca arrepio 
E percebe-se o vivaz irrequieto das sensações; sintam-se os espasmos da comunhão furta-cor 

As luzes e o som aos poucos silenciam-se através de músicas brandas, e não se está mais 
Os olhos se abrem em pupilas dilatadas ressequidas chutando os muros da ilusão de sentir 
O susto de que existe o ao redor, quando pessoas adornam em adereço, mas não habitam 
Porém os corpos ainda em coreografia como uma balança descalibrada, não há mais ninguém 
A paixão rodopia em tontura erógena, uma valsa intuitiva, visto que cedo se deslumbra o desnudo 
A euforia pujante do tempo que não se percebe, enquanto, ao longe, se sente árduo o sol nascer 
Isso posto, as mãos cálidas descem das linhas e se dão medrosas, esperançosas em hesitação 
Enfim, o dúbio perplexo ao se perceber o apesar inesgotável feliz de lançar-se em outro, droga

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

EPIFANIA



Tua falta é a abstinência ambígua mais presente, chama pontiaguda que espinha
É sensação eufórica da parcimônia, uma corrida psicoativa a lugar indefinido
A saciedade em olhares transitórios e o amor caleidoscópio, euforia de cores borradas
O silêncio arranhado em movimentos intensificados, em voo perfumado de quatro asas
Em uma trilha sonora episódica de lugares novos sinestésicos, símbolos disformes
A transcendência sempre par sem freios em uma ladeira íngreme, inconsequentes
Letargia

Os beijos de todos os lábios, o pseudofruto psicoativo da plenitude, minha coisa linda
Encarnados no momento perene estado de graça, os risos incompreensíveis furta-cores
Sensíveis prolongados em alucinações imateriais, o mundo de duas vidas inteiras
O impulso curto prazo eufórico dos efeitos alterados em bem-estar táteis, uma luz
Folículos de fumaça, espaços de recompensa intensificada dentro de um abraço
A fisiologia inconsequente e sem culpa da jovialidade, haja mais vezes para sempre
Metacognição

O pensamento iluminado, múltiplas maneiras em alteração profunda da realidade
Visões de rostos turvos testemunhando o desmanchar do limite dos contornos, música
A cintura e os dedos, compasso sobrenatural com movimentos intensificados, gravidade
Me beija, amor, ilegível intangivelmente, me conduz ao choro em risos por trás de mil versões
Dancemos desnudos descompromissados sobre os braços ao alto, tempo cosmo imensurável
Me revela em lampejos por inteireza, completude liberta no altar florido ao teu lado
Nirvana

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

ARES REIS



Com a força mais sutil e truculenta, a leveza propícia dos teus olhos sinuosos
A hipnose astuta e magnética do teu riso ardiloso como em ciclone incisivo
De sabores úmidos desmedidos aturdidos estonteados, primeiros lábios permissivos
Inventamo-nos e consentimos, em segredo a dois, um coroamento não dito
Num enlaçamento não acautelado de instante parede imperecível flutuante
A hesitação nula de quem se deleitava num revolver de ondas de cores infinitude
Meninos de mãos dadas inconscientes, casados com o tempo futuro do presente
Na certeza agoniante da felicidade asfixiando palavras desadormecidas, o alento

A descoberta lascívia e ingênua dos corpos, o desenho retrato do encaixe, delinear
O dócil contorno, bordas nectáreas que se iluminam num deleite em convulsão benigna
Traduzem-se no cauto silêncio estrondoso declarado cor de peles, o líquido e o corpo
Embalam o ponto afetuoso do nosso suntuoso beijo bélico munido de escudo nuvens
Que borram as escalas retrógradas de amor perfeito na nossa una aquarela particular
Emudecem ouvidos cobiça rumores ímprobos que nunca hão de se unir ao sentir
Ao deleite altivo pretencioso da presença austera e imodesta dos nossos laços azuis
Reis, do outro lado, daquele que eriça, de branco balançando os pés sem tocar o chão

Vem, continua perene o sonho leve ininterrupto de parar o tempo na tua gargalhada
Leva minha formalidade, os limites, para passear no teu cuidado, teu abraço, tua paz
Como gente grande, perambula entorpecente nos meus cabelos, enlaça meus enfeites
Desnuda minha mente mapa mundi das asas mais aladas na tua companhia irrestrita
Aventuremo-nos na austeridade desmedida das relações harmoniosas nos conflitos
Segue em efeito terremoto sem rumo na arte da lealdade inconteste da tua meninice
Extrai o sumo do que de sorte é leve, sem se manter, resiste comigo à rotina das modas
Comigo, corrobora o contestável poder fluido da certeza sendo apenas o teu colo

domingo, 8 de janeiro de 2017

SORRISO DO MUNDO

Reaprender-me ao brincar de vida carnaval, fluido desmonte de gosto viril frutado
De Peter Pan doce pintura extraoficial, fora de época, sensações e textura atemporal
O estado atmosférico do encontro das minhas estações, meu arsenal de todos os ciclos
De homem de barba quebra-cabeça clichê de fácil leitura singular, segundos óculos de grau
A sensatez leve do tempo que se obstinou – asas frouxas – em passar sem me retardar
Fincando ladeiras inversas na vontade de sempre subir, mesmo com as pernas exaustas
Ladrando alto o peso do consumido enervado prazo de validade das relações, de mim

Desmanchar-me ao me fingir de particulares, peculiar, vidas esmiuçadas em grandes histórias
De fantasias sui generis momentâneas, máscaras relutantes da realidade sempre em jejum
O folguedo dos meus blocos de todas as ruas, todos os corações, todos os homens, o amor
De festas sorriso apesar – felizmente – da violência masoquista das trocas, desfile de traços
A felicidade suicida sem parcimônia, alterada frenética incessante; que importa a ilusão?
Enlaçando, em gás, venenos módicos a prazeres mudadiços, fumaça branca frívola inesquecível
Fundindo o álcool fuga em minhas legendas sem tradução, o brinde regozijo simultâneo

Contemplar-me ao dilatar levezas, autofolião infração, fora da marcha-ré comum do vão igual
Da tortura pé de ouvido e de armas brancas – em palavras –, o desmontar maldade do alheio
O corte em navalha do sentir, evento uno magnânimo do ser, divino, contudo volúvel e brisa
Do que não é pândego e deleite, do prostrado e truculento, do que não é beijo e saliva viva
Grito e euforia, choro copioso de alegria, música que me arraste e me inflame – pode entrar
Jubilando os meus eternos dias como que os últimos, na bem-aventurança de todos os hiatos
Triunfando contra o mal no qual nem creio, mas que insiste em me calar os sorrisos, meus

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

ATLÂNTICO


Minha emancipação, a autonomia recíproca, a fidedignidade das minhas traduções
O empoderamento das forças, minhas marés de liberdade delinquentes bem definidas
As chagas prolongadas em territórios desconhecidos imersos em desfiladeiros azuis
Minhas ondas cativam ao norte, correm por onde há gotas de espaço, felicidades
Mesmo que não existam, insistem em persistir, desembocam em infindos deltas
Febris e apaixonadas ao não serem planícies, sensações ilhadas acima do nível do mar
Contudo seja lá quem as mandou, com tudo, que venham em larvas desconcertantes
Das mais várias ardorosas espécies, das correntes mais latentes, cálidas tatuagens

Minhas inclinações, taludes, do raso ao fundo, lá atrás do mundo, lá dos lados de fora
Mulher e homem, sem arrecifes, navegador inventivo e contínuo, sempres, hipérboles
Espalhando sigilos impertubados remansados, ressacados por ouriçar-se, galante saudoso
Chega, chuva, chuvosa e dilúvio, no teu corte do meu rosto, sobe meu riso aos gritos
Escoa aos pelos, vermelha leve, o mamilo e em descida lambe meu cone, continente
Derrama luares canções, faz chover chorando... já sou praia tangível, úmida e permissiva
Mar calmo tempestivo, mênstruo e propício, talhando lembranças e sensações, toques
Forte, dono, peço que chegue o ombro tristeza, para que não me afogue de altivez, vulcão

Minha vontade dorsal, amiúde, medula e sanguínea, constrói-se no cume pirata de mim
Sou uma boca estrangeira e os seios ofegantes, ventres por dentro, um rastro de paraíso
Uma flor longitude, desarmada, em segundos de espinhos água salgada, perigo irresistível
E quando de lá do fundo do mar de sortilégios, minhas placas de feitiço harmônico, Netuno
Sempre dia, receba-me em tempestade sem tamanho e olhemos as estrelas da imensidão
Do sem formas sem temperatura, respiração ao fim, enfim, no momento da inconsciência
Já sem razão, sem domínio dos sentidos, parcimônia e olhos fechados, toma então minha mão
Enfim, num último suspiro à superfície, me traz atento ao amor eternizado em inércia real

segunda-feira, 14 de março de 2016

OPORTUNO



Descabido e tempestivo, de relance como uma fotografia de perfis sintônicos
Invade, permanece, perdura e, em mudez, livre, cadencia corpos a equivalerem-se
Mentes reticências em poesias imorais remanescentes, taciturnas e assimétricas
Novo remanso atônito, porção de mar de calmaria, a certeza de machucar-se em risos
A leniência dos olhares úmidos, os dedos e os tremores ouriços, consoantes e escapistas
Eis os milésimos côngruos do tempo que invadem em estupro lágrimas de consentimento
Mesmo no sigilo e na quietude-sangue certeza da dor pavoneado de atos proibidos, felizes
O sadomasoquismo da banalidade, o afinado encantamento da possibilidade do eterno insano

És a maré que se rebela harmônica; cala e faz vangloriar de cada feito galante, a mentira sutil
O consentimento pertinente de todo o idiota, o tiro roleta russa, a paixão bala no gatilho
O tiro no escuro em pleno sol de perder o fio tênue do juízo, o ato, o átomo da doação
Faz gozar gota a gota, senhor do consentimento, emudece e ruge com os dentes homens
O cume do delito permitido, o peso do rosto no travesseiro, as mãos dominando a afrodisia
Tatuando unhas de lubricidade falta de ar, uníssono em gemidos de não dominar-se, abuso
Cerceando a certeza do desejo leal mútuo, mesmo que até o transgressor ejacular momentâneo
Já que convences os pávidos amantes de que o atentado cobiçoso de pertencer é delito pouco

Delinquente e violativo, todavia, criaste covardes homens temerosos de experIenciar o ébrio dos ousados
De almejar a transgressão do silêncio olho no olho, em seus vícios genitálias, o vicioso desconcerto
Peças proibidas de um quebra cabeça em delito permissivo até que ambos gritem de braços dados
Fluidos em sua excitação libidinosa, presos no desejo indivíduo pervertido e pávido do obsceno a dois
Embeba-me de lascívia viciosa, banha-me do escândalo da lubricidade cínica dos olhos fechados
Do grito irrequieto no meio da chuva, o pecado nu que escolhi moral ou imoralmente me eternizar
O homem desarmado que não pondera a incontinência suspeitosa de entrega do outro, um cigarro
És tu, o amor, o hiato cobiçoso dono da minha torta regência delimitada pelo meu desejo sublime

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

LIVRE MÚTUO


Livre-me de todo bem planejado, das doações sem inoportuno, da segurança não acidental
Das amarras de convenções soberbas e das etiquetas produzidas com tinta permanente
Ame-me com o casual surpreendente, o fortuito de cada reação, com a beleza do esporádico
Com a liberdade inconsequente manchada de batom barato eventual, uma música e ritmos
Ilumine-me de atitudes fortuitas, de recados sempre imprevisíveis em espelhos irrefletidos

A imagem-retorno é incidental, o reflexo visível... esporádico, o tom de olhos entreabertos
Os significados eternizados por milésimos, o curto eterno sorriso infantil inesperado, o amor
Que em cada espaço nu de tantos parâmetros e modelos será senhor mor do nosso antipacto
Do nosso desacordo em um buscar ser, acessório, a alienação em que sistematiza a felicidade
Sem fugas e contingentes e metas de enfrentamento, abaixo a especulações incolores alheias

Deixemos que sejam aleatórias para que elejamos em detalhes uma por uma, caoticamente
Para que sorrisos esporádicos tornem-se perenes, mesmo que alçadas em dedos apontados
Que os efeitos da sofreguidão perfumem-se em abraços de místico enlevo, arrebatamento
A fim de que o arroubo do encanto mútuo se estabeleça em leve suspensão a qualquer dor
E o sono seja sonho, relativo ou real, desde que tomemo-nos sempre protagonistas entusiastas

Enleva-me sem deleites de mãos dadas, corramos, desbravando com doces e risonhas cambalhotas
Trilhas infindas de fascínio e embriaguez, pois já não importam as sinuosas saídas, quais deltas
Nossos espasmos de vislumbramento desamarraram cada laço que dificulta cego as entradas
Aporta-me em asceticismos de incertezas a dois, como quem contempla o que não é certeza absoluta
Para que cada vazio contate-se como espaço de reinado anistiado de duas coroas, francas e soberanas

domingo, 14 de junho de 2015

AGRADECER (SINÔNIMOS)

Duas figuras sem contornos, uma fórmula jovem negligente em tons de poesia
Sorrisos-engano, mais dia menos dia, no encanto longe e intocável da tua canção
Pairavam, meia vida, rindo hálito alto desvio – estado de esperança inocente
Eternidades azuis incolores que esvaíam com a imagem no horizonte, corte incerto
O acaso oculto do quando seja, quando ele possa ser, sem pensar em pertencer – exclamação
A não resposta para a não pergunta, inconstante sentimento das ironias do destino
A Rua do Carnaval, lua de frevos bienais sem advérbios, na intensidade metonímia de partes

Ocultar o homônimo na espera embalada pela saída do outro, casa sem móveis
A esperança de pertencer a meu toque, o espelho de minha metalinguagem enquanto poesia
O acaso conspirado, as cores, o negro e o corpo, o samba, teus olhos em escolta aspirando aos meus
A incerteza da provável pertença; o sim, o quiçá, a melodia e o compasso, o balanço e o quadril
O arrepio – reticências –, transformando o silêncio na mais atenta e tenra música confessional
O passado em rotação obsessão, as pernas e os braços, os nus inconsequentes, hipnose
Como se lambesse com a ponta da língua a casca sensação de eternidade, efêmera e infinda

O beijo que desnudou uníssono cada pelo em arrepio-início-de-tudo, campo de deleite
Chegou menino entre nós e selou homem feito um coração sangue escuro, rubro latente
Na sua batida, o (des)compassado em manifesto ao caminho da plenitude renasce desnudo
Então, em verdade, paulatino e perturbador, chegaste sinônimos de toda minha natural verdade
Pulsando punhos de meninice pipoca e sorvete, singular em figuras de arroubo e enleve - volupto
Perdemo-nos nas mesóclises que dilatam virgindades, rasgando gozos... boca em estratosfera

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

SEIVA

Os espaços, as experiências de cada eclipse de dois, os laços
Percepção intuitiva da eternidade efêmera da ilusão azul
E do prazer descalço e alado que alucinante perde as asas
Cai em força, entra em chamas, paira nos desnudos ombros
Lambe os mamilos em sais e suor como em sede incontrolável
Bebe o infindável líquido... instável, em uma lágrima orgástica
Corpos, correntes e fios – um insano grito eterno em risos

Sem nomes, estranhos... todavia já tão para sempre, simples azuis
Desatino de desenhos, contornos dos lábios ao dançarem na rubra língua
Desbravando pontos dantes secretos – erupção quente da pele, em pelos
Contraindo o hálito na minha pele, as mãos ébrias que tocam horizonte
Enfim... Já não se respira, expelem-se ruídos que transpiram em compassos
Os olhos umedecem e também já não há palavras, somos olhos em aflição
Prélio, peleja. Não há mais tempo, os dedos se contraem e a carne treme

Uma flor, uma gota de nirvana corre até os quadris unidos entreabertos
O espetáculo. O grito e o ato. Apenas os olhos ansiosos no escuro e o sorriso alvo
O estado comum da exterioridade conjunta dos organismos internos, azuis
Latentes, afônicos, incoerentes. O controle e o disparate. O auge e mais sorrisos
O ritmado enlace dos membros, a troca, outra língua – a sinestesia diversa, única
A transpiração e a sensibilidade de glândulas, a pulsação adversa feliz do êxtase
O salto de olhos fechados na existência humana, animal – a seiva e o cume

domingo, 14 de dezembro de 2014

O PRINCIPADO


Um ingênuo que reclama abrigo, reino distinto
Que tudo o que tem a oferecer é a tentativa do recomeço
Mesmo acordando a cada dia inconstante do mais exagero da paixão
Invadindo pífia majestade impérios de tronos areia fina
Resguardado a meros títulos que em nada me enobrecem, são de ar

Enfim encontrei tua cor refletida na água e, sozinho, desafinei rouco a voz
Virtuoso, perdi meus olhos em território de tua desconhecida província
De pronto, assustei-me em trincheiras, como em guerra contra meu próprio reinado
Perdi, em segundos de não-razão, minha soberania, bobo incontrolável
Se fui fraqueza, coube ao meu controle se descontrolar em tua imagem

Diplomaticamente, dei-te um primeiro boa noite imaginando já todos os dias
Os dias de coroa mútua, monárquica e de riso solto eterno em toda corte
Sem tratados, tocamo-nos no fundo em profundidade natural, crianças
Entre sonetos e crônicas, temerosos, lançamos imperceptíveis rimas plebeias
Um beijo – como quem desaprendeu inevitável a agir, pungente e eterno
Case comigo, sem dizer nada, franco e cândido... eu já instituí meu sim

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O descalço e o Outro

Os pés. Pé de semente, a agressão refletida
Palavras e olhos vermelhos, mareados, freio
Veias em quente fluxo que põem roxas as unhas
Ódio, imprecisão e decisão selvagem, gritos
Grão de semeio na ausência de sobriedade,
A corrente das serpentes e os corpos
Força dura de homens, dentes trincados
As lágrimas. Lágrima de ciúmes, o Outro

Um caça-palavras sem patas, sem luvas, sem destino
O simples ato de ferir, despindo a utópica sensatez
Em segundos, em atos, como em uma tragédia
O punho. Um fim, um fio de sangue e pele, memória
O desfecho repetido, inconsequente e já arrependido
Vontade imediata de acariciar em festas desculpa

Estou descalço. As mãos. Mais palavras, ameaças vãs

O susto. A loucura e os músculos. A noite, às luzes
Um lado tende ao caos, buscando a saída, ponho a armadura
Visto o convite da vida e, para me manter respirando, suspiro
Suspiro mais uma vez, abro os olhos – mudo de lado
E na tentativa esquizofrênica de apaziguar a dor, ignoro
O perfume de portas fechadas, a qualquer preço, 120km
Fumaça com álcool, onde estou em mim?

Os passos querendo regressar com a certeza absurda da volta
Relampejo quanto trovejo em um fenômeno natural da falta
A temperatura anormal e amoral do corpo em desejo infame
Sedutor e infame, infame, infame... deplorável
Repugno o pretérito ao não mais tremer voluntário à presença
Acreditando que agora minhas sandálias são apenas para dois pés
Já não sinto frio e, breve, os calos se tornarão novas lindas fortes raízes
De Outro ignóbil, quiçá, imutavelmente torpe

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

MAR, AMOR E RIO



Com os pés no Pacífico e os dedos apontando para o céu nublado
Os olhos em mim e o infinito dominado em chuva furtacor
Procurei meu sol, a luz que, afastada de mim, esvaziava-me
Sozinho, pude conhecer a fraqueza e a força das lágrimas insustentáveis
Como se o tempo custasse a convencer-me que em verdade estava feliz
O brinde de olhos fechados, de uma só taça frágil e imaginária
Esboçando tua inconfundível imagem que me persegue há oito anos
Compartilhando teu sorriso, aquele sorriso que me saca uma arma azul
E me faz sorrir instantâneo e me sentir perto em tantos quilômetros

A distância do novo de incríveis momentos, novas pessoas e vivências
E a infantil vontade de te dar a mão a cada passo, em meio a um todo estranho
Quis, por vezes, atravessar o mar, em rio, e constatar de suspresa meu amor
Confrontar o riso das minhas fotos com a verdadeira felicidade de teus braços
A fortaleza imprecisa e inacabada pela qual só eu estou protegido
De te tomar nas costas e ganhar um beijo na nuca, trêmulo e ansioso
Como se te conhecesse hoje, pois teu amor me estabelece e me restabelece

Quantas injustas noites toquei a linha tênue da minha imaginação em você
Longe e distante, acordei com a sensação espontânea e tão apaziguadora do teu cheiro
Rocei o choroso rosto em alheias camas em que, à noite, me despedaçava em saudade
Camas que tentei completar em vão com minha ingênua e insistente memória, peso
Que completude existe em estar confundido e perdido, conscientemente?
Caminhando e voando, buscando e pertencendo a algo que nem se aproxima
Nem se aproxima do infindo prazer do simples toque de tua entrega, minha

A segurança delgada e forte do meu herói sem padrões... e que, por isso, me encanta
Sem códigos marcados ou ações previstas, a beleza da inconstância
Como fui desespero ao ser feliz sem o consentimento de tua felicidade
Meu príncipe, a sensação inegável e perturbadora que me goza inata
O suspirar e chorar em soluços, como estive sensível em pétalas leves
Mas aprendi a sorrir da dor quando o corpo pede para trincar os dentes
Levantar e encontrar o caminho, a saída, a possibilidade da abertura do meu delta

O mundo foi chiquitito para a imensidão da saudade que me aglomerava os pensamentos
Que me embaralhava as palavras na simples vontade de te reencontar breve
E, mesmo que impossível, ia dormir para que chegasse o incrível momento
A hora congelada e esperada de voltar a compartilhar cada minuto e te beijar
Em um espaço que se tornará vazio e compensará a dispersão dos nossos corpos
Daí, então, não mais me deixa dispersar do imensurável prazer do cafuné de te pertencer
Em trinta dias que mais amei quem escolhi para desembocar minha vida para o meu sempre

terça-feira, 20 de agosto de 2013

TRINTA GUACHE



Quantas duras mudanças, palavras insólitas e sonhos líquidos
Que foram desbotando com o simples toque da água, fria
E todas as promessas e todos os os homens e todas as mulheres
E todas as descobertas do corpo, todas as nuances nulas do ciúme
Todo o proibido, toda a ira da adolescência, os excessos de amor
Como fui todos beijos eternos e as juras fiéis efêmeras

Catorze, vezes, dezoito, zombava jovem do poder - que jurava dominar
Da sedução... e extrapolei meus instintos e fui a simples inerência
As possibilidades, os atos inocentes de um homem de mochila e sorrisos
Beijei a vida de olhos fechados, descobrindo, em meu possível, os limites
Como dominei em aquarela a imprecisão de um aprendiz, luzes
Pigmentos aglutinados a cada cor, a cada relação, como sem fim

Fui palco e aplausos, ator ao mentir buscando esmolas de aceitação
Temi olhares indiferentes, vaias, engoli insultos a gritos em silêncio
Perdi o sentido e minha referência, por vezes, minha mãe e minha vida
Chorando, correndo, fugindo... me refazendo, moldando, em esboço
Como ousei, em soluços, definir meus traços e merecer um só abraço
Pincel leve em parede áspera, porta fechada, vinte umas, vezes

Diante de belezas, apaixonei-me, são, em inúmeros relógios sem ponteiros
Permiti-me, concebido, seguir de mãos apertadas e unidas com o atrevimento
Com o que palpitava e descontrolava, as paixões e o estranhamento
E andei e busquei e celebrei... sempre com duas taças os brindes sem motivo
Mesmo tão solúvel como guache, mesmo ciente da inconsistência dos tons
Como fui música e sons, amigos e felicidade, noites e madrugada

Trinta e vezes criei, destruí dogmas, senti e delirei o êxtase, atemporal
O vício da permissão, os amores e as audácias... como estive nu em cafuné
Como persisti em mudar o débil imutável por compaixão, para ser feliz
Cantei em gritos na chuva, incoerente, forcei o choro voluntário para me conter
Quantas vezes li meus pedaços e, de degraus duplos, aglutinei e me reergui
Para hoje dominar apenas o seguro do vivido, em busca das tonalidades de mim

domingo, 9 de junho de 2013

CODINOME


Nomeio-me em tantos prenomes, ao acaso, de cada dia
Uma ousadia de assalto ao me refazer, ao não delimitar
Criei meu próprio pronome, a coesão mais ínfima e incerta
Produzo meus romances em que me tomo protagonista, vilão
Sou infinitamente meu próprio inimigo e me dou trégua
E volto e deliro, morro de paixão... e aflinjo e broto

Mas longe até de tua distância, ao tentar cabisbaixo te apagar
Sou pseudônimo, não me oriento em um passo de verdade, engano
Feliz em dentes abertos, incapaz e falso, encontro-me forte em lágrimas
Homem de certezas quebradas pelo tempo paulatino em feridas
Insano ao tentar desmerecer um sentimento passional, às avessas
Sem coerência, criança sozinha no escuro; em outros braços sou você

Vem em silêncio, apenas me encanta ao olhar em amor, deita
Me proteje em veludo , devolve meu nome, não importa meu orgulho
Debaixo de chuva, abraça desdespero minha dúvida e me reescreve
Pois sem metáforas, só o teu coração me envolve em vida, sinônimos
Sou sede, canção infinda, sem nota, sem melodia, sem letra, sem nome
Livre, em versos brancos e inacessível, incabível em cifras

terça-feira, 2 de abril de 2013

VISCERAL



Qualquer abismo em nuances deveras da tua voz
Trêmula estúpida inconsciente, em droga
A mão agressiva em paixão instintiva animal
Os sexos em orgasmos do toque cego em gritos
Meu corpo teu que responde em risos cachoeira
Cílios e olhinhos ao me doparem de puro amor
Meu sangue que age e compassa na tua respiração
Ofegante, instável, menino lindo inseguro

Sem teus magros pés, perdi as esquinas do caminho
Os dias todos sobrevivem sem ápices, atônitos
E nenhum modelo goza de minha virgem entrega
De quais olhos fechados enxergam teu desenho
Tua cor de aroma residente em minha pele arrepiada
Cada fino pelo, cada gosto quente da saliva
Reconheço calado teus movimentos, as espertas entonações
As mentiras em verdade e as verdades das mentiras

Em soluços, agora, rasguei a porra da moralidade
Relevei febril as infâmias e as feridas abertas
Cri apenas na melancolia excitada do que foi sublime
E nu te busquei na cama, iludido, ainda teu perfume
Fui, em feromônios, te encontrar, na varanda da noite
Vindo a mim, tua alma já estava perene em mim
Pois sabes e dominas meus mistérios e vontades
Fomos a certeza, sem cautela, da paixão incontrolável
Dos homens

quinta-feira, 14 de março de 2013

COMBUSTÃO


Na estrada inconsequente de brisas em pó
Nos cabelos do vento que em canto te assobiam
Sou somente a saudade orgulhosa que silencia
Nas vias de faixas amarelas em álcool do teu nome
No gole estado de estupor do teu corpo, ilusão
No run away da batida surda da tua falta
Festejamos sozinhos com sorrisos do canto da boca
No químico, no sólido, no intangível, onde esteja
Nas minhas veias vivas e sonoras, sem ritmo
Que ritmam a melodia de tua voz em chamas, louco
Toco meu rosto como que com teus magros dedos

Nas curvas delineadas da cumplicidade, infantis
No brilho maior da escuridão em estrelas
Somos uma párea inconsequente,telescópio em chamas
Nas pernas que balbuciam entrelaçar tuas coxas
Nas quentes mãos ao tentar te possuir em imagens
Crio teu cheiro dançando meu olfato pelos braços, só
No toque uivante longe, longínquo e severo
No instante isqueiro da chama que traga em luzes
Drogamos um ao outro em abraços de lágrimas
Nas cores indefinidas da tua escultura nua, perfeita
Nos meus pensamentos de pólvora, és fogo e melancolia
Sou risos , sou frase, sou a retórica perdida sem espaço

Na libido que distante se figura em fumaça, alquimia
Nos condutores repulsantes de beleza, só te pertenço
Sou menino, dono da tua poética quente sem estrofes
Na delicadeza sagaz da combustão, a paixão sem limites
No tabaco, no trago dos laços e nós-cegos diários
Somos maçaricos sãos de enfrentamento, de mãos dadas
Na fragilidade fósforo dos fatos, o impetuoso incêndio
No topo, no limite tangível da relação dos homens
Somos a reação pungente em cadeia de dois amantes
Na dor do pingo de vela para sarar, a cura pelo amor
Na contramão dos rótulos, os polos contrários totais
Juntos, à vida eterna na fogueira proibida

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

NADA


Quero a única eternidade para arrepender-me
E até lá vou olhar nos olhos e chorar alto
Soluçar de tanta vontade e mágoa
Suspirar o impróprio, vem de encontro
E me arrasto, e em troca, o silêncio
Rolando ao teu lado esperando teu toque
Me contento com teu cheiro de suor doce

Desabafo em letras, elas já nao dizem tudo de nada
Já nao abarcam todas as vogais, verdadeiras?
Ou minha inspiração etílica e abandonada
Chovia embaixo de uma capa furada por completo?
Mas me abraço em beijos de tua boca para não cair
Não esmorecer, não me molhar, me protege
Mesmo sendo essa nuvem suave e passageira

E volto, e vivo, e volto, e canto, mesmo sem voz
Por dentro, nas coisas tripas, no tempo que envelhece
Na tamanha vontade de fruir, de ser folha sem rumo
De fingir acreditar em promessas de olhos marejados
Garoto por momentos, agora... Clímax... Cicatriz...
E usurpo, e peco, e cumpro a sentença da tua distância
Todavia, olhando para o nada, nada de você

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

FIDELIS


É na fidelidade das palavras em doce hálito
Na mansidão e no furor das tímidas mãos
Na indecente entrega testemunha da paixão
Rosto suave em contornos fortes, perfeição
Beijos dissimulados que não consegui conter
Dos poros rasgando meus sentidos, desfrute
Os contornos em suor matando minha sede

É na felicidade companhia segura que clareia
No terror do passado escuro das cicatrizes e marcas
Na projeção real de tuas palavras, teu corpo
Os nomes, os signos, as imagens de um pacto de viver
A inerte ânsia contida por quem domina, por outro
O coração sem vidraça, a língua sem significados
Uma pedra jogada ao léu, uma escolha injusta

É na novena dos teus braços que danço
No paraíso trêmulo do canto da boca
Na reflexão sem medo, temeroso em miúdos
Frases de gritos baixos erradas em buscar razão
Olhos desarmados e assustados pela amplitude
Dos litros amargos das lágrimas arranhadas
Pela dúvida já sentida do nosso momentâneo sempre
Um amor entreaberto do passado em lâminas

É nos meus dedos que sinto teu cheiro puro
Na minha saliva que lubrifica o prazer inocente
Nas línguas ambas da madrugada e o perigo fumê
O ópio do toque e a nudez que dilata o pudor
Do feito de querer e do contrafeito do incerto
Que tiro a roupa do tempo e visto um relógio
De segundos eternos dos teus cachos de cumplicidade

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

RUA & CHÃO



Desejei poder me diluir em poucos
E de poucos pedaços parecer, invisível
Busquei o faro instinto e com sobriedade
Mesmo agressiva e agredidamente agredido
Lembrei meu passado, meu ideal de amor
Uma bala a tiro que perde força com a idade
Uma imagem na neblina fosca e turva
Não há mais esperança

Tratei de vasculhar a mais tenra memória
Como me destruiu a todos os Eternos
Como doar transformou-se em flagelo
E como as lágrimas inverteram o curso...
Transformei-me em rocha sem cachoeira
Sofrimento perene em sorriso travestido
Da boca vomitada da dulce verdadeira
Que o efêmero teima em solver
Enquanto morro meus sonhos ambos

Culpei em milésimos sem fim todas atitudes
Minhas, somadas, diminuídas nas ruas
Nas matemáticas frias de cada relação
Dos sexos impróprios, dos gozos contentes
E me vi ali, ouvindo, sem te enxergar, teus gritos
Teus xingamentos e tuas fraquezas, álcool
Cada toque bruto me instiga primitivos
E me tomei de consciência para não te agredir

Sentei tonto na larga calçada, juntos
E sua feição foi se afastando para sempre
Caminhando desfocada, dopada, para o jamais
Éramos eu e o universo do passado, sãos
Mudos, não humilhados, sentindo pena
Pedindo a Deus para te humanizar, bicho
Conter minhas chagas em chamas
Para me arrepender, novamente, do erro da escolha




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

ESPELHO


Falam em ficar sem chão, estar sem rumo
Permaneço sem alma, sem luz, em deserto
Tomado conscientemente da falta de perto
Do medo do rancor de para sempre, em dor
E durante muito tempo, serei alguns poucos
Um espelho em cacos e uma imagem sem moldura

Como a cólera supera espaços em que o amor
Impera entre dois seres? Uma dupla eterna
As mãos de faca afiada que cortaram a paz
A base, a estrutura perfeita de nós cúmplices
Os gritos ilícitos e a força onde havia pureza
As palavras sem fim, sem começo, armas duras

Detalhes infinitos que me mantêm em vazio
Sem horizontes, como se em morte aos poucos
Meu rosto não comporta em total meu sorriso
Não contempla minha tristeza infinda e o temor
O horror da solidão e da consciência, minha vida
Como me arrependo de existir nesse instante

E me ponho ao balbuciar desculpas sozinho
Em constantes lágrimas me indago sobre o momento
Em que me perdi de ti e quis desistir de mim
Pois duvido que algum homem ame a seu ídolo
Sua fonte do paraíso, sua eternidade, seu cerne
Como eu, em chamas e em lágrimas, a minha mãe

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MAR

Longa extensão de água salgada em suores
Um encontro, os olhares de desvio, o sorriso
Os olhos pretos de perigo e o canto feliz da boca
O sinuoso limite entre o mar e tua cor de sabores
E minha boca mirava cada traço, desenho perfeito
E minhas mãos, ao vento, em tato, sentiram

O inesperado reencontro do nosso laço aberto
Com um toque daquele riso que me beijou em silêncio
Quis a maresia nos teus cabelos, o contorno dos lábios
E, propositalmente, o sol iluminou somente teu rosto
E a areia, quente, trilhava simples um só um caminho
Já não havia alguém e ninguém era mais lindo

A inocência cabisbaixa, em ondas, te permitiu vir a mim
A ânsia em pertencer em momento ao desconhecido
O corpo tremendo em palavras nervosas e ansiosas
E te senti como a água que me combria em banho
Como se cada gota fosse cada toque, cada abraço...
Vem, em fúria, e me redescobre em arrepios do novo


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

EFÊMEROS



Como uma chuva de gotas de força bruta
Um desejo em sinestesia, em rajadas, nervoso
Em meus olhos de paixão foste fresco colírio
Os pés sem compasso à busca, instáveis
A forte respiração que fitava tua boca linear
Úmida, única, tentando com cheiro de momento
Assim como um carvão em chama lábil, vermelha

Tuas palavras, teus sonhos possíveis, fututo cônjuge
Sentimento súbito de delito, passional consciente
Ânsia edionda, criminosa, de sentir tua mão delicada
Teu charme me destruiu , torceu-me em estático, trêmulo
Meus músculos responderam em nervos eufóricos
Já não respirava em controle, rimas despretenciosas
Arma auspiciosa capaz de inanição, em nuvens

Nosso nu, o reconhecimento e o tato metafísico
Os beiços molhados, involuntários, desejosos de unidade
As linhas, as curvas, a métrica delicada, infindas
A arte do meu plano ideal, a sede que não se continha
O apego que já nasceu desapego, a certeza em silêncio
Deleitei-me em nosso feitiço sem truques, límpido
Assediamo-nos na pujança dos corpos, produto de amor

sábado, 1 de setembro de 2012

DISSOLUTO



Pude por anos dizer que não
Meu corpo te querendo em ódio, selvagem
Libertino, teu olhar horizontal me pertubou
Alvejando, sem freios, meus bons costumes
A dêixis sã do que eu tinha como amor
Homem culpado, desregrado, impune
Imune, em ações, às minhas convenções

Pude por vezes não desfrutar
Meu desejo traindo a mim mesmo, a suja pureza
Concupiscente, a entrega era medrosa e lasciva
Compilando o êxtaxe e as dúvidas em um momento
O segundo plano de uma obra protagonista
Companhia voluptuosa, em gritos, silenciosa
Impudico, impiedoso, dono da minha libido

Pude em lucidez te julgar
Minha verdade projetando o modelo de ti, perfeito
Cônscio, meus moldes sem efeito, inúteis
É em tua liberdade, teu sopro de força de vida
O limite imensurável e intocável, em risos
Cúmplice sem palavras, os atos, mesmo em distonia
Coeso e incoerente, a confusão de minhas escolhas

Pude em gestos te reprovar
Minhas atitudes cabisbaixas e palavras cravadas, afiadas
Covarde, te troquei por certezas sem emoção, efêmeras
Mas é em minha lúcuda embriaguez, cara sem máscaras
Que me ligo em único, sem anexos, sem regras alheias
Amando em loucura, em qualquer verdade, entorpecente
A ti, meu vício eterno sem cura

sábado, 23 de junho de 2012

CANELA DE SAUDADE



Que cheiro de cozinha ao leite de coco
De voinha com a mão na peneira, misturando o leite com o milho
Do açúcar que inunda o espaço
Do amarelo que tonifica os objetos
Da colher de pau lambida, escondido
Da quenga de coco para raspar com açúcar, pense que gostoso
Das bacias coloridas com os ingredientes exalando juninidade
Do ralador e do bagaço
Das xícaras marrons na medida certa
Do cravo impotente em sua muideza

Do calor do caldeirão, do fogão velho
Do caldo engrossando, do amarelo que muda de amarelo
Das palhas, dos cabelos
Do rádio que tocava forró, das rizadas de lembranças
Das horas ao fogo e do toque de erva doce ao final, que delícia!
Da canjica doce e gelatinosa
Da pamonha perfeita que não estoura
Do pé-de-moleque forte à castanha
Da cumplicidade, éramos nós dois

Das seis horas da noite
Da minha roupa nova, o sapato cheiroso
Do chapéu de palha coçando a cabeça
De mainha dando o toque final, o carinho
Do bigodinho e do cavanhaque a lápis preto
Do cabelo à prova de fumaça, das lágrimas
Das fogueiras, do querosene, da bola de papel com óleo
Do medo de me queimar, da brasa boa de pular
Do traco de massa, do peido-de-veia, da bomba

Da quadrilha, das vozes, dos gritos
Das músicas, da força que arrepiava, dos prazeres
Dos palhoções,das luzes e das palmas
Dos passinhos de forró, o suor das meninas
Do cheiro de felicidade, da expressão da alegria
Do sorriso coletivo ao acompanhar um balão no céu
Da beleza dos arraiais, as bandeirolas, as bandeiras
Das cores, do ritmo contagiante e empolgante
Do final da festa e das lembranças
De saborear minha infância e sua inocência

domingo, 15 de abril de 2012

LATINO


Dentre todas as escolhas, o choque de impossibilidades
Dentre todos os laços, o lindo cadarço mas solto e sujo
Dentre todos os sim, os agora... o depois da incerteza
O não-dito do improvável que separa mesmo juntos
Contudo, dentre os que gozam, o que delira e me altera em febre

A vodka proibida e provocante, o momento, a expectativa
A dose, o litro, o ópio... a droga, o ilícito e o improvável
Dentre o estável, o que me desconcerta, desestabiliza
O ínfimo, o infame, as unhas nas costas marcando em tatuagem
O prazer e o amor sobrepujando a dúvida, êxtase em êxtase

Dentre todas as saudades, a que mais dói em não querer sentir
O instinto de longe estar ao teu lado, mesmo em fúria e vazio
Perder-me dentro de mim ao justificar minha intensa vã vontade
Uma quase inanição de meus propósitos, minhas atitudes; perdido
A fagulha de acreditar no teu sorriso, nas minhas projeções e promessas

No fim, como fui centelhas de prantos sem reação, jorrando a voz
Gritos e indagações balbuciadas no volante atordoado embriagado
O soluço interminável do fim, do estado de graça, do feliz
A recriação inacabada do que já não me levava em sonho
Flâmula apagada à força bruta, desumana, sem limites
Ah, coração disléxico e daltônico de sensações

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

DOCES CONFETES


Amor e Carnaval
Palavras antônimas que se anulam, intocáveis polos
Nem no mesmo verso, nem na mesma rima
Duas linhas... uma apaixonada, outra volúvel
Mas que se transformaram naquela última noite em uma
Uma volúpia inocente, uma corda de sensações
Desfile de paixão em máscara de papel machê

A escolha dentre cada corpo de vontades
Encaixe em moldes dos nossos vazios, o olhar desviado
E a aproximação que me fez tremer só em chegar
Desenhando aos poucos tua imagem e a minha coragem
Em um aperto de mão de tempos anos luz, olhamo-nos
Como se já deduzíssemos a força e a intensidade de tudo
De cada, do todo... e o frevo silenciou as vozes alheias

Teu cheiro me recebeu antes de eu tentar falar e emudeci
O galanteio grave por essa voz que me paralisou; suspirei, suspiramos
A boca desejando falar enquanto já te dominava em sabores
Os cabelos de orquídea suave em minhas mãos, felizes e incertas
E a simbiose de pertencer, a ânsia, o contato de estado de graça
Sem comandos, éramos o deleite doce um do outro
E como em transe, sussurrávamos promessas de para sempre

Praia deserta, noite de lua amante e de entrega
Teus contornos assobiados pela maresia do mar, peles quentes
A vontade de dizer, de jurar, de te esconder para mim, para sempre
Nossa dança, sinal de foda-se o mundo, uma paixão sorriso
Um amor instantâneo platônico junto, incrivelmente real

Marco Zero e Alceu, o forte etílico – beijos, carinhos e abraços
Cada rua do Antigo foi cúmplice e estava mais feliz naquela noite
E, enfim, a ponte colorida de carnaval, despedida com lágrimas, sem confetes
Esqueci o medo de ser um simples pierrot, sorri, deixei-me iludir de saudades
Cantei teus passos até não te enxergar mais, tentei correr alguns passos
Mas me contentei com teu cheiro e a incerteza consciente da realidade
Pois não há lugar que eu não possa te reencontrar e ser infinito, de novo

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

RESTOS DE ETERNIDADE


Que dor em talhos de saudade
Dessa porra nula que não decifro
Que acende à minha volta, insana
Em luzes, refletores brancos deste oco
O indecifrável sofrer do que resta
Do que só minha feição transborda, inunda
Em olheiras de culpa e de marcas, imundas
Cicatrizes decaptantes de arrependimento

Nem todas as bocas, úmidas e hipnotizantes
Ou olhares-flechas tonturantes
Toque-contorno-do-rosto, de epiderme
Nem ao menos o hálito cru e leve
Enfeitiçariam o azedume de meu paladar
A frieza dos meus lábios com veneno
Já sem iscas para novas armadilhas
Sai de retro, perdição de um momento

Líquido suor em vapores quentes
Unhas e dedos, mãos e órgãos, macios
Pernas e línguas, o momento-suspiro
O ar que foge e o tronco que se contorce
O grito e o gemido... e o nojo do toque
A solidão acompanhada do cigarro do desengano
Com ânsia de vômito do orgasmo
Em uma busca cega do fiel eterno

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

INFANTE


Nem tente me ver em escalas de preto
Já que os detalhes no amor não desbotam
E os ciclos de aventuras mágicas, infantes
Não se desenham em pontas, não ferem
Iludem-se da presença em eterno
Me dá as mãos, vem, olha em mim

Mas não me desculpa, ri apenas a admiração
De apenas fazer o inútil de passar o dia
De já estar presente derramado em saudades
Chega em timidez, inconstante, permite
Põe os braços, me toca os lábios no pescoço
Soluça tua dor desabotoando meu remorso

Barbas amantes em palavras secas de amor
A vontade, lágrimas e o beijo do nunca
Em terra agora desconhecida, alheia
Me leva no ritmo de tua raiva, me marca
Murmura uma chuva forte em silêncio
Acende-me a criança em êxtase do passado

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

EQUUM



Em uma brisa forte e forte de suspiros
Fagulha em chamas de maus pensamentos
Vidro quebrado pedaço como estímulo
Voltam palavras ditas em febre alta
Mutilação de para sempre

Sacrifícios terminais de kamikase
Cansaço imolando meus nervos, surdos
Banquete de aversão ao outro
E enquanto a cabeça fumeja remorsos
Um transtorno fugaz me remete à imagem
Do transe do descontentamento, oco
Apertos de mão como estrangulamento

Descrente, incrível, avulso
Abuso, abuso, abuso
Inerte ,invisível, incrédulo
Dos que sentem por obrigação
Dos que riem por compensação
Dos que doam por ter

Um ponto
Clichê
Um dia após o outro
Uma pessoa entre pessoas
Animais e pessoas
Animais e animais
Animais

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

BEM VINDO



Há pouco, ouvi que nada passaria de um dezembro
Um evento ludibriado de planos dissolutos
De mais um Roberto, um Júnior, um Gustavo
Um julgamento medíocre de ser igual
O infame pesar dos que foram pele
O mesmo do todo que se repete

Paulatinamente
Do seu jeitinho, no seu tempo, mais e demais
O ritmo carinhoso do beijo que marca o medo
O abraço desacreditado em toques de fúria
Uma força de olhos úmidos, o tilintar de arrepios
A vida, o sopro devastador da paixão

Definitivamente
Os lábios trêmulos ao balbuciar, sem domínio
Sem perceber, instintivo, te amos
Um beijo em lágrimas, pode acabar o mundo
Os momentos em qualquer lugar, incomparáveis
Uma dor feliz de compartilhar o inútil a dois
O sono da contemplação

Hoje e até nosso sempre
Dono das minhas gargalhadas, regente de meu sorriso
Compasso de meus bobos sonhos, agora reais
O amor que chora ao ir embora, menino perdido
O estar perdido ao estar longe, vulnerável
A mão dada ao atravessar a vida, o cúmplice
A criança apontando para o céu, minha estrela
A saudade que brinca com minha felicidade

sábado, 11 de junho de 2011

ALMAS ETERNAS


Um dia, foste o líquido, o suprimento único
O lar, o lugar, a zona de minha subjetividade
O espaço quente, morno de proteção
Local de encaixe perfeito para meu choro
Para minha ânsia de chorar em soluços
O tamanho ideal para meu vazio

Um dia, foste a mão suave após a queda
A força feroz em defesa da cria inábil
Os dentes rangendo de nervosismo
Ante minha segurança, meu bem, meu estar
Os olhos medrosos de saudades
O desafio insigne de me deixar caminhar

Um dia, foste certeza de cada uma dúvida
O grito contra meus atos, que te doeu mais
A engenharia subjetiva de meus projetos
A metodologia do improviso, do concreto
Meu desenho, o rabisco, as folhas imperfeitas
A mão sobre a minha como um amuleto

Um dia, foste o choro do momento decepção
A alegria-orgulho do meu jeito, imagem
O abraço atemporal no tempo certeiro
O sentir por trás do meu sorriso pela metade
A heroína, o acolher dos meus infantos medos
A calma de ninar apaziguando desesperos

Um dia, foste minha escola em regime de sempre
O molde de orgulhoso caráter, mesmo sem entender
O oásis único detentor de meus segredos em silêncio
A mais indecifrável chave de acesso livre, a mim
A presença pelo cheiro, pelos cabelos, pelo riso
Minha única certeza de eternidade

Um dia, foste meu remédio, minha cura
A dor latejando por mim, a fé que me sustentou
Meu agasalho de retalho completo em si próprio
O impossível para me agradar, meu presente mais raro
O termômetro de minhas sortes e azares
O sonho dormindo de sorriso largo, inconsciente

Um dia, foste a régua sozinha de cada traço torto
A fonte das vontades e o apoio sem olhar para trás
O inato, o instinto animal, o amor do tamanho do meu mundo
A canção de afago, a voz de fazer dormir,a paz
Um dia, Deus volta para os céus em vida
Porque hoje e desde sempre, ele é, aqui, a minha mãe

quarta-feira, 4 de maio de 2011

ROSA



És o choro transbordando, menina, o riso espontâneo
A lealdade na dor, na alegria, pétala por pétala
Meu passado costurando o presente, essencial
O silêncio, o detalhe que se esvai e volta no olhar
A inveja dos que nunca alcançaram o amor, o medo

És a rosa dos ventos de horizonte indefinido, dependente
Meu instrumento de orientação mesmo sem me entender
O consentimento aos poucos do que sempre desacreditou
Por essas mãos abertas que nunca passaram de questionamentos
Certos de si, homogêneos, homem, mulher e dúvidas

És o botão de confiança que machuca, o espanto que eleva
A solidão conjunta lá de longe, tão perto de mim
A faca e o sangue, o abraço e a vitória, a incerteza
Os passos destoantes em caminhos unidos, sempre
Meu orgulho do teu jeito, nos teus muitos limites

És a Rosa de Sharon, o lírio entre os espinhos
O lugar de meu conforto ao desacreditar nos homens
O motivo para chegar mais pertinho de Deus
A seiva, uma serva do amor utópico incondicional
A força companheira, a estima e a crítica veroz

E no arrepio do fim, se ele existir para quem deveras ama
Não esqueça, irmã, das palavras, das lágrimas e dos risos
Mútuos, não se apagam, não se esquecem e nem se comparam
Com as lembranças do muito que fui, que fomos e somos felizes
Nessa busca por sermos apenas humanos, amigos

sábado, 25 de dezembro de 2010

LA SONRISA



De que me importa teu apreço?
Uma crespa mecha de amizade
Cuspe bêbado de inverdades
Vazio repleto de nostalgia, só
Se vou contar até dez, mais dez
Recontar, reviver, relembrar
E preferir esquecer, real

E ao lado de quem-cachaça estiver
Mesmo que mais infinito que eu
Abraça meu ego, lembra assim, assim
Um samba, um riso longo, uma palavra
Um olhar marejado de alegria
Clímax cúmplice constante

Com os braços nos ombros, meus
Acende uma gargalhada sem motivo
Momento e brilho a bombas de ar
Consente os puros exageros, malandro
A fome de gozar, sentir - emoção
O homem que de flor desbota
Enfim, perde as pétalas em sopro leve
Da vida, que sozinha, sombria, se esvai

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MORANGOS CONDENSADOS


Já me basta ser Segunda
Vou gozar de teu sorriso
Beber com morangos tuas palavras
Meladas condensadas, na Sexta
Feira de sábados domingos
Curtos rubros e efêmeros
Ciclo viciado, visceral
Sorvetes e ópios, lencóis

Te verei às verdes dez
Feliz às cinco, no banho, dia antes
Desenhando teu nome, imperfeito
Delineando o molde perfeito
No bafo do calor em vidro
Dedos que se tocam, mordem-se
O arrepio de imaginar
Cio de olhos fechados

À espera do perfume, contato
Sentado ao lado, mão por cima
Sinto a marcha quinta, 150km
Sem atentar para o supérfulo
Desvio do freio atraso, acelero
Simulo meus olhos faróis, longes
E esmoreço com o brilho olhar, espelho
Úmidos e quistos

Já me sacia o toque algodão
Assim aspiro o nu escondido
Linhas esculpidas que teimam
Em decifrar meus infinitos fracos, teus
Simulam o transe que grita, extrapola
A língua excitada do tempo
Travestido de eternidade

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PLENO


O tapete encharcado
E até a toalha de rosto feita de banho
A cama desforrada, as sandálias espalhadas
Nino que quer subir na cama
Água natural, três cachorros quentes
Latinha por um real, cumplicidade

Desodorante roll on, perfume seu
cinto de rockeiro, o all star menino
Doritos roubado do mercado com Coca
Pipoca com catchup, chocolate estrangeiro
Barrinha de goiaba, urso de pelúcia

Viagem de reboque, o amor escondido
Ônibus lotado, sono de colo, meia passagem
Não importa se 5h da manhã, tanto faz
Cochilo no cinema, big mac, batata fria
Praia deserta com chuva, mãos dadas
Café, almoço e janta, todos nossos
Chá que queima a panela, cuidados

Ciúme de sombras, biquinho revoltado
Os quatorze dias mais longos da vida
Desafio de fotos, distância anestésica
Desconforto da confiança, vozes chorosas
A plenitude do reencontro
Malas a fazer, futuro, decisões

Beijo sem fumê, sobrancelha arqueada
"Amooooor, me abraçaaaa"
Álcool em boteco, vinhos e crepes
Careta de cerveja quente, cúmplices
I got a felling, champagne e caipirinha
Voz arranhada de ressaca

Sexo implícito proibido
Infanto e institivo
Risadas
Choros
Abraços
E acima do medíocre e do mal:
Nosso amor

sábado, 7 de agosto de 2010

MARCAS


Dentes de força, brilho
Mordida de pra sempre
Trincando a inocência
Rasgando as páginas,futuro
Mágoas em cáries expostas
Lembranças em água gelada

Dúvida certa de eternamente
Alvos reflexos, banho maria
Inaudíveis assobios, depressão
Vontades, ânsia de gritos...
O dedo que apontou, cercou
Fura a ferida boa de machucar

Truque da felicidade à força
Olhares tatuagem, sumiço
Beijos encharcados de outros
Palavras em ressaca, ópio
Foto sem imagem
Porta-passado

domingo, 1 de agosto de 2010

INDECIFRÁVEL



Inconstante
A arte do esconderijo dos sentidos
A doçura das figuras da linguagem crua
A tradução metafórica do simples ser
A euforia da aventura, o novo feliz
A expressão da sensibilidade infantil
Rebelde razão em alegria

João Bobo, volúvel
Irmão incondicional de um sempre sorriso
Amigo de madrugadas de neon, noites de vinho
O dorso estável de instabilidades
O garoto choroso que perdeu as chaves
O homem seguro que educa, realização
Seriedade com um jornal, delícia em gibis
Luz do sol, intenso romance

De quem falece a impaciência ao não sentir
Insatisfeita perfeição a fogo
Dono de migalhas que silenciam sonhos
O sentido por meus conceitos
A verdade por meus devaneios
Amante carne viva, anos luz

Incógnita
Menino que fura o dedo, pacto
A brincadeira solitária de, só, salvar o mundo
Guerreiro eterno, poderes imensuráveis
Bonança inocente que não consente um não
A raiva de bochechas, a beleza mentirosa do perdão
Orgulhoso, cara feia de peito aberto

Consciente, em transe
Incomodo como espinho que finca
A inveja mutável que me puxa
A topada de rosto no chão
Mas amoleço os ombros, estendo a mão
Beijo a face que me perturba
Cuspo o passado e me deixo embreagar
Desse conhaque de felicidade leviana
Ai, que vontade de viver!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

MÁGICO DE NÓS



Olhos luminosos de perfumes e cores
Feitiço cabisbaixo e riso indeciso, profundo
Algo de longe tão perto que sangra
A corda bamba da confiança
E eu saltimbanco, palhacinho que se ri
Ao me enfeitiçar de teu show de só ser
Seja qual for o trapézio, perigo excitante
Respeitável público de dois

Palco de lembranças, o passado arranha
Fere com unhas de indiferença e me afasta do espetáculo
Céu sinestésico, lona exclusiva para o amor
Cortinas que escondem o impossível
Limpa essa maquiagem, a lágrima que desce escura
Me tira da cartola, me acaricia, toma-me entre os dedos
Me corta ao meio e me leva em pedaços, teus

Silêncio da dor do coração plateia, apreensão
Uma sordidez que me toca em prantos, me cala em só seduzir
E com ponta de faca me cega o futuro, distante
Saltemos do maior ponto, sem rede, não me solta a mão suada
Sem rumo, gritemos o ópio declarado
Mágica! Um, dois, três... já! Saída pela esquerda
O show acabou, luzes de indecisão

segunda-feira, 19 de julho de 2010

ALÉM DA PRESENÇA


Em cada lágrima de fios de algo que não sei
Perdido em um vazio sem saber os ondes de verdades
Você uniu meus tijolinhos, escalou com domínio
A Babel de meus mistérios que perturbam
Os degraus duplos de sorriso, infantis
Balançou meus pensamentos na rede de sorrir
Fascínio que me fez chorar, cheiro de chuva
Sentimento em ciclo que se faz de poeira
Uma primavera que me encolheu a fantasia
Em uma faísca de palavras, espelho de más lembranças

Rendo meu coração prisioneiro e peço as chaves em segredo
Mas mantenho as algemas de um braço apenas, ferido
Condenado as outras dores, fecho as portas de entrar
E sangro a esperança que amanhece e logo escurece
Respirando com força para me manter vivo, éter
Forjando olhares em lugar de jogar, a cada dia, no lixo
Sonhos labirintos que me privam da saída

Mas, vem, em melancolia, afastar o desapontar de cumplicidade
Aprendizado de cada verso, estrofe real, de cada grito infindo
Uma voz de imensidão, eco sem segredos que te busca
Mas tire a mão de minha boca, permita-me devanear
Domina meus erros e não julga em minh´alma os erros , constrói
Me presenteie com as ervas daninhas de teu ciúme, mortas
Aduba cada jardim verde de mim, plante o que melhor de mim é seu
Semente que não vinga sem esse amor, orgulhoso
Menino travesso, estarei perdido em teu encontro
Enquanto teus olhos não me encararem
Em verdade

sexta-feira, 16 de julho de 2010

BOTÃO DE ESPINHOS


Ébrio de juventude
Seca meus cabelos de solidão
Cheirando a gélida fome
De um toque em música
Distrai os diabos da incerteza, sujos
A esperança movida à queima, combustão
E me devolve o saldo a pagar

Essa luta mortal e insana de corpos
O ópio da difusa jovialidade
Celado em máscaras de orgasmos
Múltiplas facetas dos mesmos
Fantoches do agridoce prazer
Sai de retro, amarás

Beleza imatura
Satisfaze-me de seriedade
Rindo do instantâneo profundo presente
Uma coragem febril e marginal
Embebeda-me de intransigente consciência
Toma-me os sexos, as partes da satisfação
Mas não me deixes cair em tentação
Furor animal, coito ilícito, amém

quarta-feira, 14 de julho de 2010

ETÍLICO


Ceifar minha vida, tão difícil
Sobreviver junto a tua beleza inconstante
Isso sim é penar pelas volúpias
Das esmolas irrisórias do momento
Escorregando ao abraço com lástima
Desprezo ao iludir meus horizontes

Pelos excitados em poros de nicotina
Hálito etílico barato, palavras aflitas
A boca que escorre vida, adrenalina
Me pego com teus cabelos em mãos, incontroláveis
Úmidos, sem forma, cobrindo os perfeitos olhos
Acordo. Então continuo só, ilusão

Contemplar a insaciável droga que me engana
O delírio que amolece e te traz
Ramificado de delícias azedas e amargas
Como fugir da sua rude indiferença, altivez?
Se ao toque, mesmo sem motivos, ascende-me esperanças
E fumo cada resto de teu infinito sorriso
Me dopo da simpatia cafuné, olhos fechados
Me engano ciente dessa eterna ressaca

domingo, 11 de julho de 2010

CARROSSEL ANTI-HORÁRIO


Zonzo
Cercado de luzes
Detalhes sutis de hipnose, azuis
Sozinho na cadeira colorida
Desembarca mais alguém
Sem retornar o olhar, lamenta
Duas lágrimas que se unem
Em uma pergunta de respostas certas

Sobe e desce e gira
Na melodia pesada de passados
Partes de um novo carrossel velho
Passos que marcam decisões
Me iludem e esquecem no caminho
Dúvidas a apagar amores infinitos
Me levam, mas temo cair
Seguro em mãos que desaparecem

Tonto e fraco
Não consigo me impor equilíbrio
Empurram meu corpo e tremo
Criança muda e chorosa
Mais alguns desistem e somem
Baixam as luzes, também meus olhos
Vou golfar, no vazio, os inúmeros nomes
Devolver os ingressos descontentes
Fantástico volúvel e doce
Sem música, nem cores

terça-feira, 1 de junho de 2010

PERFUME AMARGO



Desapontar teu corpo com minha doce amarga entrega
O avesso do líquido que ascende, transcende, estende
Encarar sem concentrar com olhos a verdade
Ousadia de meninos com suor salgado de melancolia
Frieza que dança áspera nas curvas, sinuoso desenho
Sutileza de uma lágrima que insiste em cair, chuva
Um suspiro que de mórbido estanca e entala as palavras

Simples momento da cartilha da promessa vazia
Músculos e esculturas, lábios com sabor azedo de outro, realidade
Ácido molhando minha nuca ao chamar por ele, aquele verdade
O peso no corpo que não se acostuma com o meu, fardo
Delicadeza sutil de arranhar e marcar com olhares de reprovação
Tolo... elixir que não cura a camada que envolve a ferida
Carne crua que lateja a presença dele em projeção de mim
Faz de conta, romance-armadilha, senso incomum

Um triz de feitiço por palavras galantes, malícia que envolve
Cerveja e brindes de sedução, princípio de fascínio
Fogo em folha verde, sentimentos em órbita
Bolhas de engano embebidas em gentil disfarce
Mas te decifrei em êxtase... meus seios em tuas mãos
E a cama virou lugar infinito, lençol úmido infindo
Vomitei meu erro de me machucar, ferir-me com teu toque
Pela simples presença de um ator, perfume sem cheiro
Vazio... inverso de mim, prisioneiro do véu passado
Laços descalços, pés sem rumos

sexta-feira, 21 de maio de 2010

SINESTESIA DESNUDA


Fã de teus defeitos perfeitos
Vislumbro os detalhes encantos
A criação suave, desenho dos lábios
Que enfrentam os meus, em ritmo de olhos perdidos
Desorientados que não me encaram, entrega
Aos poucos, intensos... surto de sentidos

Calafrios que se acostumaram ao teu tempo
O sexo que de novo conhece o caminho
O cheiro de suor e paixão enlaçados de perfumes
Lúcido em transe de tua imagem adolescente
Os contornos do nu que transpira a ânsia
O desejo de cada toque, perfeição
Explosão da espera do impossível realizável

Reparte o que vive em ti e me pertence
Acolhe meu convite e deixa o silêncio forçado
Grita meu nome e soma ao teu em cumplicidade
Assume os olhares desviados pela intolerância
Visita minhas mãos em teu quadril, meu
Me queima a boca até arder, fusão
Me faz platéia e encerra a temporada da encenação
Nus... em parceira com o infinito

segunda-feira, 17 de maio de 2010

MEU PORTO


As ideias dos mais de 25 que falam de vida
Atitudes, olhar cabisbaixo e altivo, forte homem
Não nasceram de livros, mas de meu tímido herói
Daqueles que se tomam em cavernas, que temem o sol
Mas que sem tomar conta, moldou meus pensamentos, deu-me traços
Imagem semelhança de um coração que se escondeu
Uma força que enfraquece na solidão distante
Um suspiro de saudade, cabeça no ombro de pai

O violão acariciado nos braços do homem duro
A criança que do espelho ouve as músicas
Que esconde o medo na esperança de mostrar-se maior
Chorando a dor das letras que se mostravam nas canções
O adulto que renasce dos momentos de proteção
Fala de amor com um ranço adolescente de duas décadas
A voz presa, amarrada em dizer o que balbucia a boca insegura
Umedece toda insegurança de poder sentar em teu colo

O silêncio da idade que amadurece as respostas
Da busca que teima em endurecer a realidade
Mas que ao me adubar homem, amortece as palavras secas
Que me tomaram pelas costas e amarraram os braços de abraço
Hoje, passadas as histórias que esticaram o sorriso
Renasceram os anos em meu rosto e te vejo em mim
Uma simplicidade não lapidada, bruta mas tão humana
As lágrimas de uma vida traduzidas em um silêncio
De desculpas mútuas em soluço de dois que tanto se assemelham
Vive e mantém meu corpo respirando, amor de sangue